terça-feira, 11 de agosto de 2009

RECOMEÇAR




Comumente, associamos recomeço com alguém que perdeu bens materiais, perdeu a vida que tinha, perdeu o emprego, saiu da sarjeta, esteve no fundo do poço por conta do álcool, de alguma droga, esse tipo de coisa. Poucas vezes pensamos que recomeçar significa retomar a vida a cada derrota, seja ela de que tipo, gravidade ou natureza for. Pequenina ou não. Definitiva ou não. Valiosa. Ou não. E, sendo assim, esquecer um grande amor é também recomeçar... Um recomeço difícil. Uma nova luta a cada dia. O peito hiato. A gente se acostuma com tudo nessa vida, até com a própria vida... Não deve ser tão complicado superar uma ferida de amor. Eu preciso recomeçar a vida, não posso esmorecer. Se eu declinar, quem vai alimentar o cão?

Por uns breves instantes, eu quase consigo entender o que é ter amado loucamente e ter perdido um grande amor (3). Nessas ocasiões excepcionais (em que me sinto superiormente dotado), eu encaro cada ex-amor com uma experiência singular de minha vida, algo a acrescentar, a ensinar. Não importa o tamanho do pranto, da dor, mesmo que as lágrimas encham toda uma piscina, algo de valioso foi aprendido. Recomeçar é juntar esses aprendizados e caminhar de novo, passos lentos (ou rápidos, ou pode ser parado mesmo), em busca do novo, do acerto, do definitivo, se existir, e da felicidade. A esperança consiste nisso, não tenho dúvidas: na possibilidade de imaginar que um dia acabará a sua busca, a sua agonia, as mãos cessarão a tremedeira inconteste, os olhos secarão, o nó na garganta se dissipa, e nunca mais será necessário re-co-me-çar. (4)

Então, já no dia seguinte, a saudade vai iniciar seu ritual sádico de tortura. Um pedaço de mim não existe mais, é como sinto agora. Pareço aquelas cobras da TV a cabo que estão sempre trocando de pele, arrastando por detrás de si aquele resto de tecido morto e cansado, sem valia, sem préstimo, mas, marcas de um passado, sinais de outrora, símbolos de vida anterior, lembranças de dias felizes e tristes. Uma prova da seqüência, da certeza que o sol sempre vai nascer no dia seguinte. Não é fácil recomeçar, não mentirei pra ti. Por vezes, a força nos parece faltar, as pernas até estremecem, não é raro se curvarem e desestabilizarem comicamente todo o corpo, a taquicardia covarde toma de supetão sua carcaça debilitada e solteira. Viva, porém. “Ninguém dirá que é tarde demais”. Aquela foto pode até ficar lá, a me machucar, como a prova definitiva de que não sonhei. Não!, não...era um grande amor mesmo. Agora sou apenas eu. Eu comigo. Eu e o recomeço.

A ferida vai começar a se fechar. Até mesmo as de amor são plenamente curáveis. Eu sou curandeiro, você sabe. Poeta e curandeiro, Fabro. Demora, mas fecha. Dói, mas passa. Já vai passar, meu amor... deixa de ser tão carente! As cicatrizes já se estendem por todo meu tórax, vítimas inocentes de um byroniano qualquer. Logo, não me ocuparei mais em imaginar o que você agora faz, se come, se dorme, se namora, se ama. Ou se sorri. Um dia deverei esquecê-la, anjo, porque de amor eu não devo morrer. Eu venço a solidão, eu venço a tristeza no meu peito. Eu, vencido e só, lutando por fazer valer a pena o pôr do sol seguinte, quando direi: não me procures entender, dói em mim também. Eu sigo em frente, recomeçando, pois hei de recomeçar, hei de fazer valer a definição. O que passou me ensinou, meu coração não se fechará por conta disso, eu sei que vou amar de novo.



Marcelo Maroldi


Seguidores